Mini romance 8

8. Amarelo.

Teve esse garoto lá na época que eu era uma coisinha de nada que usava calça com elástico na barra e rabo de cavalo meio torto (hoje eu ainda sou uma coisinha de nada, mas pelo menos não uso mais calça com elástico na barra - Pelo menos não quando vou SAIR DE CASA) que me ensinou lições valiosas que eu levo comigo desde aquela época e que já foram muito úteis nessa vida de paquerinhas.

Mas vamos do começo. 2003. Vamos entrar no clima. Apertem o play.

Minhas amigas melhores eram tão ou mais nerds quanto eu e, sendo bem sincera, eram bem idiotinhas (Não estou xingando minhas amigas, estou apenas constatando um fato: QUEM NÃO É IDIOTA AOS 13 ANOS???) que, se já tinham dado uns beijos na vida, jamais tinham conseguido levar o ~relacionamento~ pro próximo nível (naquela época o próximo nível era a "ficada na escola") e tinham tanta propriedade para falar de relacionamentos em 2003 quando Jair Bolsonaro tem hoje em dia pra falar sobre amor ao próximo - e eu ‘tava junto nessa, então não posso julgar - até porque é por causa da nossa completa noobice que essa história tem "graça".

He was a boy, I was a girl, can I make it anymore obvious? Eu era uma nerd muito pior do que sou hoje e não tinha coragem de falar com nenhum cara que não fosse gay ou meu amigo desde o fundamental. Ele era um cara absurdamente comum que não se destacava em nada e ainda por cima andava em bando (com um bando de moleques de 15 anos, ou seja: Idiotas. E meninos cheios de hormônio). 

Era um dia de frio e chuva e saudades no colégio onde eu estudei até os 14 anos e, pra melhorar, era o dia do show de talentos de Natal, o evento do mês (de Novembro, não me perguntem o porquê, eu só reparei HOJE que era bizarro) e a oportunidade de ver os amigos (e os não-tão-amigos assim) pagando mico e - muito mais importante - de não ter aula.

Não tinha como não estar feliz aquele dia - e eu estava, ao contrário de uma das amigas que se aquele dia estava numa missão quase impossível de descobrir se o cara por quem ela era obcecada apaixonada estava esperando o dia de ~aula vaga~ e ~escurinho do teatro~ para se jogar nos braços de uma outra moça (Oi, Carregada! Estamos falando de você aqui, um beijo!).


Nossa missão aquele dia era - no intervalo entre uma apresentação de Bro'z e outra de Rouge - descobrir SE e QUANDO ia rolar entre os dois. Nós tínhamos um plano simples e bem planejado (por pessoas de 13 anos): Assim que fossemos dispensadas da nossa turma, iriamos correr até a quadra do nosso colégio e nos escondermos atrás de uma das colunas até a hora em que os dois (a paixonite da amiga e a mina de quem ele supostamente era afim) passassem pra, SÓ DEPOIS, entrarmos no auditório e nos sentarmos em um lugar próximo ao "casal", num estilo bem Mariah Carey no clipe de Heartbreaker.

Só que sem estragar pipoca.



Claro que o plano era absurdamente furado e eu perdi totalmente o foco da operação assim que eu vi o mocinho bonito sentado duas cadeiras depois da minha. Vamos chamá-lo de... AMARELO. E aí era aquela coisa de um olho no peixe (o "casal" que estava separado por uns 4 amigos e nem estava conversando) e outro no gato (o moço bonitinho sentado ao meu lado) até que minha amiga finalmente percebeu e ficou bem puta da vida com minhas prioridades.

Aqui eu poderia abrir um parêntese pra explicar como era essa amiga, mas vou encurtar a história e dizer apenas que ela era uma combinação muito instável de neurose e ira, com pontuais surtos de vingança. Essa amiga ficou louca da vida ao perceber que eu estava mais preocupada com o moço bonitinho ao meu lado do que com as ideias ruins dela, resolveu se vingar ME EXPONDO e gritou "EI, LOIRINHHO, A MINHA AMIGA TÁ AFIM DE VOCÊ!". No meio do teatro. E apontando pra mim.

Ok, eu sei que eu fui igualmente louca por querer maturidade de alguém de 13 anos que estava perseguindo um cara no teatro, e  por ter deixado aquilo interferir na minha vida do jeito que interferiu, mas aquele momento foi um instante interminável de terror, principalmente porque o loirinho mandou um "Fala pra ela sentar aqui do meu lado". E eu... TAN TAN TAN: Saí correndo, dramaticamente, do teatro.

Sim.

Nos dias seguintes eu via o mocinho TODOS OS DIAS no intervalo, o que era uma tremenda novidade já que até o dia do teatro eu NUNCA tinha visto o cara. Fui desenvolvendo uma quedinha porque, é claro, eu já era trouxa desde aquela época e decidi um dia, quase um mês depois, PEDIR DESCULPAS pelo surto da minha amiga.

Amigos, agora 'cês reflitam aí um pouquinho:
- Era num teatro;
- Tava escuro;
- Tinha se passado quase um mês. Qual a chance do moço SE LEMBRAR de mim?
Pessoas normais teriam se esquecido em dois dias, mas nãããããão o Amarelo.
Me aproximei toda faceira com um "Não sei se você se lembra de mim..." e ele, mais que de repente, mandou um: "Claro que lembro, você é a mina do teatro". A conversa foi rapidíssima e a gente nunca mais trocou duas palavras depois daquele dia, mas daquele dia em diante e pelo próximo ano eu comi, bebi, respirei e só falei do AMARELO - e isso não mudou nem quando eu saí do colégio pra fazer o ensino médio num colégio técnico. Só desencanei mesmo quando eu conheci o primeiro namorado, quase dois anos depois.

E, olha, foram longos dois anos de paixão platônica. Dois anos MUITO VERGONHOSOS com três "encontros" em que nenhuma palavra foi dita e onde mesmo assim eu paguei muito mico. Por causa desse cara eu passei a amar o Orlando Bloom vestido de Legolas e o Sting, do The Police, porque os dois eram versões baixo orçamento dele (ainda bem que eu ainda não conhecia o Constantine naquela época, ufa).

Quando eu tava no terceiro colegial e ele já tinha se formado descobri stalkeando por acaso que ele estava namorando uma das garotas populares do meu ano no antigo colégio, mas aí eu também já tava namorando e só me vangloriei nos diários por ter visto um TALENTO antes das meninas populares (seria uma ótima olheira de namorado caso essa função existisse no mundo).

Eu achava que isso era caso encerrado, página virada, história superada até que em 2011, quando eu já tinha terminado o primeiro namoro e estava na FASE PORRA LOUCA, lembrei que eu o tinha adicionado no msn. Fomos conversar (mandei o "estudei na mesma época que você no CNSR, a gente deveria ter algum amigo em comum, mas não lembro quem") e eu descobri que ele, pós-namoro com a pop, virou um cara totalmente Pólo-no-Punto-Balada-Na-Vila-Olimpia-trinta-horas-de-academia-por-semana ou seja: Não preenchia mais os meus requisitos. Nem no auge da fase porra louca.


É uma história da minha adolescência e das mais banais (porque antes de 2003 era tudo mato na minha vida amorosa e o mais próximo de contato que eu tive com meus paquerinhas era quando eles assinavam minha apostila no final do semestre), mas me deixou lições valiosas que eu levo comigo até hoje (não disse que aprendi as lições, veja bem):
- Não faça a Mariah Heartbreak;
- Não tenha amigas vingativas achando legal porque UMA HORA ELAS SE VINGAM DE VOCÊ;
- Não seja louca e saia correndo quando você for pega fazendo alguma coisa ridícula;
- Não desenvolva paixões platônicas baseadas apenas na aparência da pessoa;

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