You are beautiful in every single way - Words can't bring you down

(Puta merda, esse vai ser grande. Me desculpem desde já)

Sabe quando a gente aprende uma coisa e aí de repente TUDO que acontece parece remeter a essa coisa? Então.
Semana passada aconteceu um lance engraçado. Um carinha com quem saí e com quem ainda falo me disse que, se não me conhecesse e gostasse de mim, me acharia absurdamente arrogante e autossuficiente porque eu respondo "Obrigada, eu sei" quando alguém diz que eu sou bonita. Eu fiquei pensando nisso porque, até ele falar, eu nunca tinha encarado essa minha resposta como arrogância: Pra mim é só a óbvia constatação da realidade. Eu me acho bonita e não vejo razão pra discordar disso quando alguém me diz. Simples assim.
Fiquei meio bolada com esse assunto a semana inteira, revendo situações em que fui elogiada e respondi com "eu sei" e reparei que a reação padrão quando eu agradeço e digo que sei é essa mesmo: "Hahahaha, como assim você sabe?" "Modesta você, hein?" "Hahaha... Como você é metida" e aí eu saquei que... FODA-SE, NÉ? 


Arrogância
substantivo feminino
1. ato ou efeito de arrogar(-se), de atribuir a si direito, poder ou privilégio.
2. p.ext. qualidade ou caráter de quem, por suposta superioridade moral, social, intelectual ou de comportamento, assume atitude prepotente ou de desprezo com relação aos outros; orgulho ostensivo, altivez.
3. p.ext. atitude desrespeitosa e ofensiva em atos ou palavras; insolência, atrevimento, ousadia.


Olha, ser bonito NÃO É PRIVILÉGIO, que eu saiba. E eu também não acho que eu seja SUPERIOR a ninguém, nem desprezo os outros por me achar bonita. A minha beleza não diminui de ninguém. E em nenhum momento eu fui ofensiva quando respondi "Obrigada, eu sei". Usei até a ~palavrinha mágica.
Não é arrogância, é amor próprio.


E aí eu me peguei pensando nisso, em como até pouco tempo atrás eu também acharia pouco de alguém que é seguro sobre a própria aparência do jeito que eu sou com a minha hoje (gosto TANTO de mim mesma que eu tenho até um pouco medo de mudar demais. Bruno Mars canta pra mim quando bota "Girl you're amazing just the way you are" na música). E lembrei de como foi minha adolescência, quando eu SEMPRE era chamada de inteligente, engraçada, "coração bom" e NUNCA de bonita. NUNCA MESMO.
Eu era tão movida a elogios que por um bom tempo eu me achei inteligente e achei que teria que compensar a falta de beleza sendo engraçada... E aí eu era arrogante, porque puta merda, como eu desprezei e fui imbecil com todo mundo que eu não julgava tão inteligente quanto eu...
Não sei em qual momento isso mudou, essa percepção que eu tinha de mim mesma - mentira, sei sim: Foi quando comecei a namorar o primeiro namorado e ELE me dizia que eu era bonita. Eu não acreditava e sempre fazia doce quando ele me falava isso, mas alguma coisa em mim começou a mudar com aqueles elogios da aparência... Foi por isso que eu penei tanto quando a gente terminou: Eu achava que nunca mais na vida alguém iria me achar bonita, e que eu ia acabar sozinha no mundo porque nenhum outro moço jamais se interessaria por mim.
COITADINHA.

Foi um longo caminho até eu perceber que eu tava errada. Longo mesmo, 'cês não tem ideia do quanto foi longo e do quanto foi difícil eu aprender a gostar da minha aparência o tanto quanto eu já gostava do meu ~conjunto interno~. Foi difícil também equilibrar os dois e deixar de ser a escrota nerd esnobe que eu era (e o feminismo teve um puta papel importante nisso, principalmente pra me mostrar que não é porque eu preferia abrir um livro a abrir as pernas que eu era melhor que alguém e que NADA me impedia de fazer as duas coisas, olha só que maravilha! Um mundo inteiro se abriu pra mim quando eu parei de fazer essas distinções idiotas!!!)... E ainda É complicado me manter inteira e me amando num mundo em que qualquer demonstração de amor próprio é visto como arrogância, em um mundo em que eu, baixinha, gordinha, que não curte se maquiar e não gosta nem de PENTEAR O CABELO, não sou padrão.

Um comentariozinho inocente de um EX já me fez ficar meio pensativa por uns dias, então vocês vejam só como é frágil esse negócio de amor próprio e autoestima...

Aí passou... 



Sábado eu fui com minha mãe na casa de uma amiga da família, que eu conheço desde a 3ª série do Fundamental, porque eu estudei com uma das filhas dela e me tornei amiga da outra - vale lembrar que a minha amizade com as meninas foi meio que ~rebaixada~ pra coleguismo, mas minha mãe e a mãe delas são BFFs até hoje, então a gente se vê com uma frequência até que boa.
Uma das meninas não estava quando chegamos e, assim que chegou, foi correndo pro quarto se arrumar pra um casamento de amiga. Ela saiu e eu BABEI no vestido dela, de tão lindo que era: Preto, justo, com umas rendas na parte de cima e uma saia solta até o meio das coxas. O vestido era lindo e tava bem legal nela, que é alta e tem pernão. Mas antes que eu pudesse falar qualquer coisa a mãe e a irmã já começaram a berrar "Nossa, tá horrível! Tira!" e "Você engordou, não pode usar esse vestido, tá marcando tudo". Cara.... A CARA DA MENINA, 'CÊS NÃO TEM IDEIA. Ela só não chorou porque a gente tava ali. Certeza. Dava pra sentir o tanto que ela ficou abalada com os comentários e o desconforto que minha mãe e eu estávamos sentindo cairia bem melhor na mãe e na irmã dela do que na gente.
Aí foi um auê, um Deus nos acuda e, no fim, enfiaram uma cinta daquelas modeladoras na menina (que, na minha opinião, mudaram NADA na composição final) e "deixaram" ela ir pro casamento com o vestido que ela queria.
Mas me diz: 'Cê acha que teve a mesma graça? 'Cê acha que ela tava confortável? 'Cê acha que ela tava SE SENTINDO BEM com aquele bagulho apertado que ia limitar os movimentos pra dançar, pra virar pro lado e pra fazer qualquer coisa?
Puta merda, aquilo me fez tão mal... E aí eu lembrei de vários episódios da nossa infância/adolescente em que coisas assim aconteceram, um deles em especial: Nós duas tínhamos uns 13 anos e fomos com nossas mães até o Bom Retiro (bairro de compras aqui de SP, pra quem não sabe) pra comprarmos roupa. Tinha umas saias horríveis que estavam na moda, justas, curtas e com estampa de coqueiro (um horror, sério mesmo) que eu não usaria NEM SE GANHASSE... Mas adivinha se a amiga não queria uma exatamente daquele jeito...
Daí fomos, provamos (eu também porque minha mãe tinha a-do-ra-do) e a amiga foi proibida pela mãe de comprar porque estava curta, justa, feia e ela tava gorda demais pra usar roupa que mostrava as pernas. Mas, segundo a mãe dela, eu deveria levar porque minhas pernas tavam lindas nela, eu tava magrinha, tava um espetáculo, tava linda... E eu? 
Eu levei a saia mesmo achando horrível. Porque ALGUÉM, OUTRA PESSOA, tinha me achado bonita nela e nunca ninguém tinha me chamado de bonita na vida (lembrando que eu era a inteligente) - e nem era pra puxar meu saco, já que ela tinha falado que a própria filha tava feia.
Eu me achei um monte aquele dia (E nunca usei a saia porque plmdds, era muito feia) e só ontem, quando eu lembrava desse papo todo, eu pensei em como a amiga deve ter se sentido, em como ela deve ter se ODIADO.

O quanto é complicado a gente se amar num mundo em que TODO MUNDO tá contra o nosso amor próprio, gente... Eu fiquei realmente mal por isso. De verdade.
E aí eu comecei a lembrar de um monte de coisas, um monte de papos, do Monge dizendo que achava FÚTIL as meninas falarem de cabelo e maquiagem como se fossem a coisa mais importante do mundo, mas sem levar em consideração de que as pessoas são tratadas como um montinho de cocô de rato quanto não estão nos padrões e que, pra entrar nesses padrões, a maioria das pessoas se sujeita a um monte de coisas horríveis. O Monge, assim como o cara que disse que eu sou arrogante por me achar bonita, NUNCA vão entender. Porque embora os dois sejam fora do padrão a cobrança nunca é tão grande pros homens quanto é pras mulheres. Eles nunca vão entender o quanto é IMPORTANTE, pra uma moça, dizer "Obrigada, eu sei" quando dizem que ela é bonita. Quando dizem que ela é inteligente. Quando dizem que ela é engraçada. O quanto de CORAGEM e AMOR PRÓPRIO foram necessários pra ela assumir que é bonita, que é inteligente, que é engraçada, que tem alguma coisa de bom nela.

Não é arrogância, eu insisto. É amor próprio.
NUNCA diminuam isso. NUNCA. Vocês não fazem ideia do que aquela pessoa teve que suportar antes de ter coragem pra se aceitar e se amar. Sem contar que é MUITO importante a gente se amar independente do que os outros venham a achar da nossa aparência.



EU SEI que sou bonita, obrigada. Tô te dizendo isso porque vivo nesse corpo 24/7 e sei do que ele é perfeito do jeito que é. Obrigada.

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